Alô todos.
Nova tarefa para todos nós. Gostaria que vocês pesquisassem, explicassem e exemplificassem os conceitos de Contradição e Ambiguidade (sorry, estou sem trema em meu teclado hoje...:)
Vale aqui o mesmo que foi dito em minha mensagem para a lista hoje: utilizem citações curtas, comentem bastante, apresentem exemplos e não se esqueçam de colocar o link e/ou referência bibliográfica, para que possamos ir direto ao texto completo. Por favor, não coloquem artigos inteiros aqui. Um bom ponto de partida será nosso texto "Semântica Formal", do Fiorin; o texto aborda os dois conceitos. No entanto, é necessário pesquisar outras fontes para melhor entendimento.
E, claro, vamos interagir e não somente nos limitar a postar definições e exemplos.
Abraços,
JM
terça-feira, 30 de outubro de 2007
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15 comentários:
Queridos, estudando o capítulo Semântica Formal, do livro Introdução à Lingüística, de José Luiz Fiorin, encontrei as definições abaixo. Resolvi fazer um resumo para simplificar as coisas.
CONTRADIÇÃO
A contradição acontece quando duas expressões têm sentidos incompatíveis com a mesma situação. Lembram-se quando estudamos a sinonímia entre sentenças? Bem, falamos sobre essas sentenças serem verdadeiras, compatíveis. Na contradição, duas sentenças não podem ser simultaneamente verdadeiras.
Exemplo: Maria comeu mamão de manhã, mas não comeu nenhuma fruta.
Vocês devem estar pensando (como eu pensei!) que antonímia e contradição são, na realidade, a mesma coisa. Entretanto, a antonímia pode ou não envolver a contradição. Nas frases abaixo, os itens lexicais destacados são considerados opostos, mas não podemos dizer que as sentenças envolvem uma relação de contradição.
Exemplo: Carlos abriu a porta. / Carlos fechou a porta.
Podemos encontrar relações de antonímia que são completamente contraditórias.
Exemplo: O cachorro de Paulo é manso.
O cachorro de Paulo é bravo.
Posso terminar (até parece!) com uma pergunta? Como vocês analisam a frase abaixo?
“Não sou eu que moro no mesmo bairro que a Joana. É a Joana que mora no mesmo bairro que eu.”
AMBIGÜIDADE
Analisando a frase “A balada de ontem foi divertida”, podemos dizer que a palavra balada é ambígua. Balada pode significar um tipo de música ou até mesmo, pode ser a gíria atual, usada pelos jovens para falar de um acontecimento social.
Uma sentença pode ser ambígua se tiver diferentes possibilidades de combinação de palavras, quando ela puder ter mais de uma estrutura sintática.
Exemplo: Os alunos e os professores inteligentes participaram do simpósio.
Podemos interpretar essa sentença de diferentes maneiras:
1. Tanto os alunos como os professores que participaram do simpósio eram inteligentes;
2. Todos os alunos participaram do simpósio, mas, entre os professores, apenas os inteligentes participaram.
As ambigüidades não se limitam àquelas causadas pela presença, na sentença, de um item lexical ambíguo. EXISTEM AMBIGÜIDADES PURAMENTE SEMÂNTICAS.
Exemplo: A vizinha de João gosta dele.
Dele quem? De João? Ou de algum indivíduo de sexo masculino encontrado através do contexto?
Alô Ana e todos.
Bom início de discussão. Enquanto aguardamos os demais adentrarem (gostaram?) a conversa, gostei do exemplo da Ana: "A balada de ontem foi divertida". Que é ambíguo acho que todos concordam (o porquê a gente vai discutindo), mas será que tem algo a ver com homonímia e polissemia?
Abraços
JM
Boa tarde, sobreviventes do Feriado de Finados.
Pesquisando sobre definições para o termo AMBIGÜIDADE, encontrei a seguinte em texto de Cleide Emília Faye Pedrosa (UFS)intitulado "RECURSOS PARA UMA DESAMBIGÜIZAÇÃO DAS “FRASES” VEICULADAS PELAS REVISTAS VEJA E ISTO É (http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ11_04.htm):
"Etimologicamente o termo ‘ambigüidade’ provém de duas palavras latinas: ambo e agere, indicando uma situação que nos remete simultaneamente para duas direções interpretativas distintas."
A autora não explica (deve ter pensado que, obviamente, todos nós depreenderíamos os significados automaticamente), portanto aí vai: AMBO quer dizer "de ambos os lados", enquanto AGERE significa "conduzir, realizar, proceder, fazer". (Bâââhhhh...):):)
Exemplos abundam (ô palavrinha boa pra discutir ambigüidade!)na nossa imprensa, como o abaixo:
"(...) os corpos do casal B serão exumados pela segunda vez nesta semana." ( Folha de S. Paulo).
Pode-se perguntar: segunda vez desde o começo do inquérito,ou na semana corrente? Trata-se, creio, de um problema maior para o leitor resolver do que no caso do primeiro apontado no nosso texto-base, em que a ambigüidade dá-se no nível da polissemia de uma única palavra (o exemplo da BALADA), pois este é geralmente mais fácil de ser resolvido pelo co-texto.
Sobre CONTRADIÇÃO, gostei de algumas coisas que achei em http://www.geocities.com/Athens/Crete/1546/cap4s3.htm, onde, em sua dissertação de mestrado, Leonel Figueiredo de Alencar Araripe afirma que "uma contradição é...uma proposição não verdadeira, i. e. falsa, em todos os mundos possíveis." Mais adiante, ele diz que "um caso particular de contradição é o que KATZ/FODOR (1963:188) e KATZ (1967:130,1971:301,1972:5, 91) denominam 'anomalia semântica'. Nessas abordagens, a anomalia semântica equivale à 'ausência de significado'... Um constituinte (sintagma nominal, frase etc.) é semanticamente anômalo quando o conjunto de 'leituras' (sentidos) que o 'componente semântico' lhe atribui é vazio, em conseqüência de violações às restrições de seleção (cf. KATZ, 1967:130; KATZ, 1971:301). Nos moldes dessa abordagem, um constituinte como LOMBRIGA SINCERA é semanticamente anômalo...Há duas explicações possíveis para essa estranheza como má formação semântica. No âmbito da abordagem de KATZ, a anomalia decorre da não satisfação das restrições de seleção do adjetivo SINCERO. Nos moldes da abordagem de HURFORD/HEASLEY (1983:191-192), LOMBRIGA SINCERA exemplifica uma contradição, que decorre dos 'postulados semânticos' que representam o sentido dos predicados LOMBRIGA e SINCERO. Um desses postulados expressa SINCERO x HUMANO, que conflita com LOMBRIGA x HUMANO... A construção é estranha porque é contraditória."
Não esqueçamos, contudo, das múltiplas possibilidades da língua. O próprio Leonel lembra que, por exemplo, em uma história infantil, o sintagma LOMBRIGA SINCERA é perfeitamente cabível, deixando de ser contraditório graças a recursos como personificação e metáfora, além do intuito irônico de uma aparente contradição que cria humor, como a apontada por Müller e Viotti em nosso texto de estudo ("O bígamo que não tinha nenhuma mulher").
Paro por aqui, esperando voltar AQFP.
Grande abraço, blogueiros de plantão.
Segundo o site de filologia: A ambigüidade pode ser polissêmica, ou estrutural. No primeiro caso, deve-se à possibilidade de os vocábulos apresentarem mais de um significado; no segundo, ela se prende a problemas de construção. A ambigüidade derivada da polissemia do vocábulo pode ser evitada pelo esclarecimento maior do contexto, ou pela substituição do vocábulo polissêmico por outro de sentido equivalente; já no caso da ambigüidade estrutural, as causas são muitas e as possibilidades de eliminá-la variam conforme o problema que a origina.
Por enquanto é só pessoal
Bjs
Raquel
Olá, blogueiros de Camões.
Analisando o que a Ana deixou lá no final do post dela, acho que não resta dúvida. Vejamos:
“Não sou eu que moro no mesmo bairro que a Joana. É a Joana que mora no mesmo bairro que eu.”
Ou seja, sou EU que sou mais "importante", podendo até parecer que a dita cuja mudou-se para lá, talvez por pura inveja. Claro, isso é só uma das muitas leituras possíveis da aparente contradição. O exemplo me remete a uma entrevista do grande historiador Sérgio Buarque de Holanda. Certa vez, ele disse que, até o final dos anos sessenta, seu menino Francisco Buarque de Holanda era "o filho do Sérgio". Já na década seguinte, era Sérgio a quem chamavam "o pai do Chico".
Um abraço a todos,
JC
Alô todos.
Muito boas as contribuições de vocês.
Antes de encerrar a discussão, alguém se arriscaria a responder a pergunta que coloquei envolvendo homonímia e polissemia?
Abraços... e por onde andarão Neilton e Caroline?
JM
Olá amigos! (I'm alive!!!...hehe)
Bem, tentando responder a pergunta do JM, digo que sim existe relação entre a ambigüidade da frase e os conceitos de homonímia e polissemia.
Isso fica claro quando pensamos que o que faz a frase “A balada de ontem foi divertida” ter duplo sentido é a condição polissêmica da palavra "balada". Essa palavra poderá assumir diferentes significados dependendo do sintagma em que aparece e, principalmente, dependendo do contexto situacional em que se encontra o interlocutor.
Abs,
Neilton
Isso mesmo, Neilton. Também concordo que a palavra "balada" pode ter vários sentidos, dependendo do contexto em que ela está inserida. Assim, acredito que tem mais a ver com polissemia.
Alô
Bem, acho que podemos dar este tema como terminado. Tenho algumas últimas palavras.
A minha pergunta foi um pouco retórica: é claro que a homonímia e a polissemia têm a ver com a ambigüidade e a contradição, mas não só elas. Na verdade a antonímia e o "acarretamento" também. A noção de acarretamento está explicada em nosso texto (página 145). Na verdade, o acarretamento é uma extensão da noção de hiponímia à sentença. Dêem uma lida para esclarecer melhor.
Eu queria terminar esta discussão dizendo que estas noções são extremamente importante para quem trabalha com língua e/ou literatura. A partir do entendimento destes conceitos, teremos mais facilidade para entender melhor os textos, sob diversos ângulos, e também para ensinar nossos alunos, sejam eles de uma língua estrangeira, língua materna ou outra cadeira relacionada qualquer.
Na verdade, os conceitos que vimos analisando estão entrelaçados. Acabamos de ver que, por exemplo, a contradição e a ambigüidade estão ligadas à homonímia, à antonímia, à polissemia, ao acarretamento. É como se analisássemos o texto sob cortes diversos. Num corte só se vê, por exemplo a polissemia ou a homonímia; em outro, já vemos a ambigüidade, que por sua vez depende dos conceitos anteriores...
Bem, vou parar por aqui. Alguém tem algo mais a dizer sobre esse assunto?
Abraço,
JM
Ola a todos!
Infelizmente cheguei muito atrasada e acredito ser dificil fazer alguma contribuicao realmente relevante. De qualquer forma, vou tentar.
Encontrei no site http://www.brasilescola.com/redacao/ambiguidade.htm
uma materia sobre ambiguidade bastante sucinta, que se parece com um manual.
O primeiro exemplo (Crianças que recebem leite materno freqüentemente são mais sadias. ) me fez lembrar uma propaganda de que, creio, todos se recordam:
Tostines vende mais porque eh fresquinho ou eh fresquinho porque vende mais?
Isso prova o q Zeh disse no seu ultimo post (11/11/2007)sobre essas nocoes serem extremamente importantes para quem trabalha com lingua e literatura. Os textos publicitarios, por exemplo, sao, propositalmente, recheados desses recursos linguisticos e ateh do que chamamos "vicios de linguagem".
O texto RECURSOS AUXILIARES DO DISCURSO NA LINGUAGEM DE PROPAGANDA (http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ8_08.htm) trata deste assunto com muita propriedade e eh muito interessante! Vale a pena conferir!
Para terminar, darei mais um exemplo retirado do seriado O Sistema. Eis um excerto do dialogo entre uma atendente de telemarketing e um cliente:
- Senhor, nao tem porque reagir assim a minha ligacao. Eu posso lhe garantir que nao ha nenhuma ma intencao acerca dela.
- Ah, ok... E, quer dizer, nao existe ma intencao acerca dela. E a ser anta, existe?
Como todos deixaram um desafio, eis ai o meu: onde esta a ambiguidade no dialogo acima? Qual foi o vicio de linguagem que a causou?
Ateh mais! Boa semana a todos!
Ola novamente!
A respeito de contradicao nao tenho nada a acrescentar, mas gostaria de fazer uma pergunta.
Em seu post do dia 1/11/2007, Aninha deu o seguinte exemplo:
"Não sou eu que moro no mesmo bairro que a Joana. É a Joana que mora no mesmo bairro que eu.”
No dia 5/11/2007, JC fez uma breve e excelente analise sobre uma das possiveis interpretacoes para o exemplo deixado para Aninha. Em seguida, citou Sergio Buarque de Holanda, que afirmou que a relacao de fama entre ele e seu filho Chico se inverteu.
A minha pergunta eh: nos dois casos, as afirmacoes sao contraditorias, mas tambem sao sinonimas, correto?
Alô Carol e todos.
Não sei se o pessoal tem mais gás para responder seus desafios...:-) então vou colocar meu pitaco e vamos ver se alguém concorda ou "disconcorda"...
Exemplo da Ana:
"Não sou eu que moro no mesmo bairro que a Joana. É a Joana que mora no mesmo bairro que eu."
Exemplo do ZC:
"Francisco Buarque de Holanda era 'o filho do Sérgio' / Sérgio era 'o pai do Chico'."
Mais um exemplo do JM:
"O copo está meio cheio / O copo está meio vazio."
Pergunta da Carol:
"nos dois casos, as afirmacoes sao contraditorias, mas tambem sao sinonimas, correto?"
JM diz:
Não sei se nos três casos acima se trata de contradição. As expressões não "têm sentidos incompatíveis com a mesma situação". Trata-se de um jogo de palavras que lida diretamente com vocábulos opostos (antonímia), mas que no contexto não causam oposição; além disso, trabalha-se com o foco semântico, a posição do falante. Por isso, Carol, vejo que você até poderia dizer que as expressões, duas a duas, são sinônimas. No entanto, somente numa primeira análise, mais superficial, pois se você analisar o foco semântico, verá que são bastante diferentes. Vejamos:
"Não sou eu que moro no mesmo bairro que a Joana. É a Joana que mora no mesmo bairro que eu." -- temos o privilégio do falante como "dono" do bairro, e Joana como a "invasora".
"Francisco Buarque de Holanda era 'o filho do Sérgio' / Sérgio era 'o pai do Chico'." -- Chico Buarque antes era "subalterno, menos importante"; depois, curiosamente, o foco não se inverte, mas Sérgio ganha mais importância devido à fama do filho.
"O copo está meio cheio / O copo está meio vazio." -- a primeira é uma afirmação otimista; a segunda, pessimista.
Pode haver outras interpretações, mas a base da análise é essa.
Alguém continua?
JM
Ola todos!
Obrigada pela explicacao!:-)
Ainda assim, acredito que, em um nivel de leitura superficial, tanto no exemplo de Aninha quanto no de JC, haja contradicao, sim. Quando nos atentamos para os subniveis, percemos outras nuances de interpretacao (que voce apontou).
Em relacao ao exemplo do Sergio Buarque, acho que nao me expressei bem. Nao eh que a relacao de fama tenha se invertido, afinal Sergio continuou sendo um historiador respeitadissimo e renomado. No entanto, o que eu entendi da sua frase, eh que soh passou a ser conhecido como "pai do Chico" quando este tornou-se tao ou mais famoso que o pai (ateh por ser um artista).
Minha interpretacao esta muito equivocada?
Ateh!
Carol e todos.
Explicando a explicação...:-)
A questão da contradição nos três exemplos citados poderia nos render algumas teses de doutorado... mas se partirmos da definição do Fiorin, por exemplo, ou seja, "a contradição acontece quando duas expressões têm sentidos incompatíveis com a mesma situação", continuo não vendo contradição, pois nos três exemplos apontados, as expressões não têm sentidos incompatíveis com a situação (o copo meio cheio não contradiz o copo meio vazio; dá simplesmente um tom diferente).
Quanto ao exemplo do Sergio Buarque, tua interpretação está correta, mas só porque sabemos quem é o Sergio e sabemos que ele continua sendo uma grande personalidade. No entanto, não é isto que está no texto (na fala dele). E tem outro detalhe: nós, estudantes de letras, sabemos quem foi o Sergio. Mas pergunte a 100 brasileiros se conhecem o Sergio e/ou o Chico. Acho que a grande maioria desconhecerá o Sergio e reconhecerá o Chico. Na minha opinião, a frase de efeito está construída sobre esta certeza estatística.
Abraços e beijos a quem de direito...:-)
JM
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