domingo, 2 de setembro de 2007

A Namorada do Zé

Alô

Todos já devem ter lido minha última mensagem à lista de discussão, onde eu falo de um suposto concurso A Namorada do Zé, discutindo os termos "significado", "sentido" e "referência". Todos com certeza entenderam o "significado" do concurso, da mensagem, enfim, de tudo. A tarefa aqui é explicar do ponto de vista da semântica, por que vocês riram... (não adianta tentar me enganar; todos riram...:-) Quero saber, em vista do que vimos discutindo, por que vocês riram? Foi devido ao significado? ao sentido? a quê exatamente?

Abraço.

8 comentários:

José Carlos disse...

Bem, Zé, antes de mais nada, queria dizer que absolutamente não ri do seu concurso; acho, na verdade, um concurso bem plausível, tanto que sugiro jurados para o mesmo: que tal Papai Noel, o coelhinho da Páscoa, o curupira e o monstro do Lago Ness? :) :)
Falando sério agora, no problema proposto pelo Zé, creio que rimos não do sentido nem do significado, mas da REFERÊNCIA. Diz o Zé:
"Se eu disser "Luana Piovani ganhou o concurso A Namorada do Zé em 1999."...todos entenderão o "significado" das frases, ou seja, o produto final, ou seja, todos fecharão uma "significação" na mente...Todos sabemos as "referências" envolvidas: os nomes representam mulheres (seres humanos do sexo feminino, ganhadoras de um concurso); (2) todos sabemos o "sentido" de "A Namorada do Zé", ou seja, um concurso onde bla bla bla... Neste caso, o "sentido" de "A Namorada do Zé" é além de tudo constante, quer dizer, é o mesmo em todas as frases. É como se o sentido estivesse ligado às partes e o significado ao todo...". Já no texto SF, Fiorin escreve:
"...A referência de uma expressão é a entidade (ou as entidades), o objeto ou o indivíduo que ela aponta no mundo. No caso de uma sentença, sua referência é seu valor de verdade...nem sem, a substituição de duas expressões com a mesma referência preserva a verdade de um raciocínio..."(p. 144). Daí, Fiorin chama de CONTEXTOS REFERENCIAIS ou EXTENSIONAIS os que permitem a substituição de termos com a mesma referência, enquanto os que não o fazem de OPACOS ou INTENSIONAIS. Não estou certo disto, mas não seria a situação sugerida pelo Zé uma de contexto opaco?
Super abraço!

Unknown disse...

Conversando com José Carlos, vi que temos a mesma opinião quanto ao Concurso (doido, por sinal) da Namorada do Zé. Ao ler o texto, ri das mulheres que ele selecionou para serem suas candidatas. Assim, creio que a referência chamou minha atenção. Posso fazê-los uma pergunta: a referência estaria sempre ligada a nomes próprios? Pergunto isso por pensar da seguinte maneira:uso um nome próprio para determinar ou identificar uma referência. Será que vocês me permitiriam mais algumas perguntinhas? hehehe A referência estaria diretamente ligada ao sentido? Será que existem expressões com sentido mas sem referência? Será que existem expressões com a mesma referência mas sentidos diferentes?

raquel disse...

Eu acho que mesmo que se tenha rido do seu delírio momentâneo, não se tornaram frases de difícil entendimento, pois como o JC mesmo falou, o que nos fez entender as frases foi o conhecimento das partes envolvidas, ou seja, as referências.A mudança de uma frase para outra foram apenas as mulheres e os anos que ocorreram o concurso, correto?
Como diz Saussure "Sejam quais forem os fatores de alteração, quer funcionem isoladamente ou combinados, levam sempre a um deslocamento da relação entre significado e significante."
Será que estou falando besteira:(!
Besos, Raquel

José M. da Silva disse...

Alô.

Bom, vocês mataram a maior parte... tudo começa com as referências. Na verdade, Raquel, a mudança nas frases não é somente o nome das mulheres e os anos, mas o que isso acarreta: referências a diferentes mulheres. No ano tal, a mulher tal. Mas tem algo mais: a referência ao concurso é sempre a mesma (A Namorada do Zé). Isso já responde a uma das perguntas da Ana.

JC, neste caso em particular, não há opacidade, a referência é sempre clara, ou seja, estamos diante de um caso de contexto referenciall mesmo.

Agora, o motivo do riso é um conjunto de coisas, que se resume a uma expressão que eu usei na lista: a produção do sentido a partir das referências, relações e valores. Dentro de cada microcontexto, tudo funciona muito bem (o nome do concurso, os anos e os nomes diferentes das mulheres); o riso começa quando se faz a referência do nome Zé à pessoa que vocês conhecem chamada Zé. Para quem não me conhece, não há por que rir. Como essa referência não seria esperada na vida real, não com o nome do concurso e muito menos com as mulheres associados a mim, vem o riso. A ironia e as piadas caminham por aí também.

Como bem lembrou a Raquel, tem a ver com o deslocamento da relação ste/sdo, mas não somente com isso. A produção do sentido, como vimos inclui mais elementos do que somente o signo lingüístico, como por exemplo, a relação entre os signos.

Perguntinhas da Ana:

"a referência estaria sempre ligada a nomes próprios?" -- não. Quando eu falo "cão", você visualiza o mesmo animal que eu, ou seja, faz a mesma referência.

"A referência estaria diretamente ligada ao sentido?" -- sim. Mas ela é independente dele; os dois juntos é que vão produzir o significado.

"Será que existem expressões com sentido mas sem referência?" -- na verdade, acho que não. Se existe uma expressão e se ela tem sentido, de alguma forma existe uma referência a algo ou a alguém. Mas esse é um bom ponto para se pensar melhor...

"Será que existem expressões com a mesma referência mas sentidos diferentes?" -- sim. O exemplo da Namorada do Zé explicita isso. Quando eu digo que "Luana Piovani foi a Namorada do Zé (no ano tal)" e "Daniela Escobar foi a Namorada do Zé (no ano qual)", temos a mesma referência ao concurso, mas sentidos diferentes devido às duas ganhadoras diferentes e aos anos diferentes.

Agora, tem outra razão para o riso: os homens porque queriam estar no meu lugar e as mulheres por pura inveja das ganhadoras...:-)))))

Carol Gonçalves disse...

Bem, estou atrasada no meu comentario, mas mesmo assim nao vou deixar de comentar....rs...

Pra comecar, que maneh inveja o que, Zeh! Acho que vou comecar uma votacao pra ver quando trataremos da sua internacao..hehehehe...

Quanto ao meu riso, acho que aconteceu por causa das referencias mesmo. Pensar na Luana Piovani como namorada do Zeh eh no minimo risivel....hehehehehehehe (se bem que os dois sao malinhas...hehehehehe)

A pergunta de Aninha ("Será que existem expressões com sentido mas sem referência?"), que o Zeh ja respondeu, me fez pensar em uma coisa... Para uma pessoa q nao conheca o Zeh, toda a ideia do concurso vai fazer sentido, mas ela nao tera uma referencia masculina especifica (o que fara com que o concurso deixe de ser absurdo...rs...) Assim, a expressao tem sentido, mas falta uma referencia, nao? Ou sera que viajei?

Bjinhos pra tds!

Unknown disse...

Estou na calda do cometa...mas vale a pena comentar. Quanto ao fator de motivação dos risos, concordo com os colegas que as referências exteriores são elementos essenciais, sem os quais não haveria motivo para riso. A primeira referência (e mais importante) é a pessoa sonhadora "Zé" (rs). Se fosse um ator famoso qualquer ou um grande jogador de futebol, quaisquer que fossem as mulheres envolvidas no concurso, ninguém normal da cuca conseguiria rir do tal concurso. Portanto, ao saber q nosso professor terá como candidatas mulheres tão belas temos então a segunda referência, também curcial para os risos.
Agora, quanto ao comentário da Carol, concordo parcialmente. Realmente, a referência é essencial para se fazer sentido na "piada". Porém, não se pode dizer que não existe uma referência, pois cada um pode tirar a sua própria conclusão. "Zé" pode ser "zé mané", "zé ruela", etc.

Abraços!

Carol Gonçalves disse...

Eh, Neilton... Acho q vc tem razao msm...
Entao, na verdade, um mesmo enunciado pode possuir mais de uma referencia, dependendo de quem o interpreta?

Bjos!

Unknown disse...

Com certeza, Carol. Não há dúvida de que existem mais de uma referência possível, dependendo de cada contexto. Isso porque cada um de nós tem um background léxico e semântico próprio, singular.

Bye!