
Alô.
Enviei uma mensagem via lista de discussão com um anexo que é a capa do disco do Pink Floyd referida à página 116 de nosso primeiro texto (também colocada aqui).
A tarefa é a seguinte: façam uma pesquisa em inglês, português, espanhol e francês sobre os nomes das cores do arco-íris. Por ordem de chegada, o primeiro comentário estará numa das línguas, o segundo em outra e assim por diante. Depois discutiremos. Podem pesquisar em dicionários, enciclopédias, Web, onde desejarem.
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17 comentários:
(Português)
Arco-íris
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Um arco-íris (também chamado arco-celeste, arco-da-aliança, arco-da-chuva ou arco-da-velha) é um fenômeno óptico e meteorológico que separa a luz do sol em seu espectro (aproximadamente) contínuo quando o sol brilha sobre gotas de chuva. Ele é um arco multicolorido com o vermelho no seu exterior e o violeta em seu interior; a seqüência completa é vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil (ou indigo) e violeta.
Bem, também conferi em outro site para ver se as mesmas cores seriam citadas.
As cores do Arco-Íris
Tradicionalmente, são indicadas sete cores no arco-íris (do exterior para o interior): vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Na verdade, não são só sete cores – trata-se de uma infinidade de cores em variação contínua, desde o vermelho até ao violeta. É toda esta gama de cores que, combinada, forma a luz branca.
http://www.ajc.pt/cienciaj/n15/cnet.php3
Todos os outros sites apontavam as sete cores. ( A apostila aponta seis)
Pessoal, resolvi continuar procurando por não entender o porquê da apostila falar em seis cores ao invés das sete citadas por todos os outros sites. Encontrei um site que deu uma boa explicação do porquê de serem seis, na realidade.
http://espectadores.blogspot.com/2004_05_01_archive.html
Se pensarmos um pouco, vemos que não há razão para que se fale em "sete cores" mas sim em seis. Vejamos... São três as cores primárias: encarnado, amarelo e azul. São também três as cores secundárias: laranja, verde e violeta. Como se sabe, "laranja" resulta da adição da cor primária "encarnado" com a cor primária "amarelo". Do mesmo modo, "verde" resulta da soma de "amarelo" com "azul", e violeta da soma de "azul" com "encarnado". Este fato concreto, de que as cores secundárias se extraem das primárias por adição, é que dá o epíteto de "primárias" ao encarnado, ao amarelo e ao azul.
Assim, o esquema triangular de cores dá-nos uma razão de ser para a identificação de seis cores no arco-íris. Obviamente que o espectro visível é uma gama contínua de cores, mas é inegável que o olho humano consegue distinguir claramente no arco-íris (ou na reflexão da luz através de um prisma) as três cores primárias intercaladas por curtas bandas de cores secundárias. Temos assim, na faixa do visível:
Encarnado (primária, faixa longa)
Laranja (secundária, faixa curta)
Amarelo (primária, faixa longa)
Verde (secundária, faixa curta)
Azul (primária, faixa longa)
Violeta (secundária, faixa curta)
Não é, por isso, necessário acrescentar uma sétima cor. Então, porque é que se tornou costume fazê-lo?
Essa necessidade de uma sétima cor é real e correta. Contudo, a solução que se encontrou ao adicionar uma sétima cor revela uma profunda incompreensão desta necessidade de sete termos. O sétimo termo não é uma cor, não é um termo como os outros. É um "sétimo raio", e não uma sétima cor... É sim, como diz Guénon, o "raio central" ou "raio axial", e corresponde à luz branca.
É evidente que não necessitamos de mais uma sétima cor no esquema triangular que apresentamos atrás!
Com efeito, podemos colocar as três cores fundamentais nos três vértices de um triângulo, e as três cores complementares nos de um triângulo inverso do primeiro, de tal forma que cada cor fundamental e a sua complementar se encontram colocadas em pontos diametralmente opostos; e vemos que a figura assim formada não é outra senão a do «selo de Salomão». Se traçarmos o círculo no qual está inscrito o duplo triângulo, cada uma das cores complementares ocupa o ponto situado a meio do arco compreendido entre os pontos das duas cores fundamentais de cuja combinação ela resulta (...); as nuances intermediárias correspondem naturalmente a todos os pontos da circunferência, mas no duplo triângulo que é aqui o essencial, não há evidentemente lugar para mais de seis cores. »
As cores do arco-íris são assim percorridas desde o encarnado até ao violeta, através de um percurso sobre a circunferência descrita por Guénon, que no diagrama que apresentamos, é um percurso no sentido dos ponteiros do relógio. Todo o espectro da luz visível é obtido por percursos sobre esta circunferência. Primeira objeção: olhando para as cores como radiações monocromáticas, e não como somas de cores, temos que a cada cor (a cada ponto da circunferência) corresponde uma onda de freqüência fixa. Não há um salto de freqüência, ou seja, uma descontinuidade, ao passar do violeta para o encarnado?
Bem, depois da super explicação física da Ana, segue o complemento pedido na tarefa, que é listar as cores do arco-íris em outras línguas. Para fugir do óbvio (e talvez influenciado pela recente paixão de Gysele Colombo pelo francês), resolvi mandar as cores na língua de Napoleão: ROUGE, ORANGE, JAUNE, VERT, BLEU, INDIGO e VIOLET.
Au revoir.
Bem, gente, eu continuo com o meu bom e velho ingles mesmo...rs...
As cores sao: red, orange, yellow, green, blue, indigo e violet (ou purple).
Hasta la vista (esse ja eh o gancho pra Raquel...rs...)
Bjinhos!
A explicação de Ana foi mesmo maravilhosa.
Aproveitando o gancho da Carol
uso o meu lindo español.
Los colores son: rojo, naranja, amarillo, verde, azul, añil y morado o lila.
Besitos
Alô. Bem, depois desta pesquisa inicial, vamos ao que interessa...:-)
Na verdade, esta questão do arco-íris foi colocada para introduzir um assunto, que vocês já descobriram: a questão da visão de mundo.
Nosso texto, à página 116, levanta a questão, mencionando o disco do Pink Floyd, em cuja capa há um arco-íris com seis cores e não sete. Na verdade, mesmo em língua inglesa hoje em dia, já se fala nas sete cores. No entanto, como é apontado no texto, outras culturas percebem as cores diferentemente; no caso do arco-íris, há línguas que só mencionam duas partes, uma "mais escura" e outra "mais clara".
Georges Mounin, num livro intitulado "Os Problemas Teóricos da Tradução" (Cultrix, 1975), tem um capítulo dedicado à questão das visões de mundo, com relação à língua e, mais especificamente, à tradução. Um trecho: "A riqueza das designações dos índios Pyallup quando se trata de salmões, as dos esquimós para a neve, de certas sociedades africanas com relação às palmeiras, dos gaúchos argentinos com referência à pelagem dos cavalos, nos causavam espanto como modalidade diferente da nossa de segmentar a experiência do mundo, como uma visão do mundo diferente da nossa." [p. 180]
Mounin ainda fala um pouco sobre a questão das cores: "Verifica-se, com efeito, que em todas as línguas estudadas deste ponto de vista, pelomenos uma parte das cores é denominada com referência às tecnologias de tintura, de pintura, de coloração ou de aplicação de marcas, com referência ao material de origem, ao produto corante, ao processo, ao matiz definido por comparação com um objeto de cor padronizada. Dessa maneira, o latim possui termos que fazem referir ao mel, aomarfim, ao buxo, à hera, à cereja, às penas da pomba, à cinza, ao breu, ao mirto, à ferrugem, etc. (tal como existe em francês: bordeaux, cachou, tabac, brique, havane, etc.). (...) A propósito da tribo brasileira dos nambiquaras, observa Lévi-Strauss que 'o amarelo e o vermelho formam freqüentemente para eles uma única categoria lingüística, devido às variações do corante do urucu que, dependendo da qualidade dos grãos e de seu grau de maturidade, oscila entre o vermelhão e o amarelo alaranjado.'" [p. 199]
Mesmo com todas estas diferentes visões de mundo, Mounin conclui: "Todos esses fatos de denominação de cores (além de perderem o seu caráter de singularidade psicológica ao serem examinados à luz dos universais tecnológicos) levam a constatar que as 'visões de mundo' que seriam por eles exteriorizadas não são incomunicáveis: ao se referirem a algo tangível no mundo exterior, elas sempre permitem captar um mínimo invariante de significação denotativa, sempre susceptível de ser transmitido de língua para língua." [p. 199]
Para entendermos as implicações lingüísticas das diferentes visões de mundo, consideremos uma palavra como "capitalismo". Será que ela tem o mesmo significado (agora estamos mais próximos de nosso estudo semântico) para um americano e para um brasileiro? Para um brasileiro petista, um socialista e um neoliberal? E durante a Guerra Fria nos Estados Unidos e em Cuba e na Rússia?
Vamos continuar discutindo isso na lista, mas quem quiser comentar ainda alguma coisa aqui, faça-o... essa discussão pode ser bem longa e interessante.
Apenas um último comentário sobre fontes: quando se pesquisa na Web, é preciso muito cuidado; dizemos em tecnologia educacional que a Web tem 100 % de informação, contra apenas 10 % de conhecimento (leia-se exatidão e confiabilidade). Sou muito cético com blogs e sites não-educacionais (a não ser que geridos por pessoas confiáveis, como nós...:-) Não quero entrar em detalhes aqui, mas recomendo bastante cautela ao pesquisar na Web. O problema é que uma pesquisa bem feita leva tempo e normalmente tendemos a parar no segundo ou terceiro site que encontramos com nossa pesquisa. A Wikipedia também pode ser muito interessante, mas pode conter "desinformações" (não é à toa que estão verificando mais aprofundadamente as matérias enviadas para lá...) Recomendo sempre sites educacionais (.edu), organizacionais (.org) ou outros de notória confiabilidade (indicações: que tenham biografia dos autores, contato, data de ultima atualização etc.) Portanto, muito cuidado...
Uma pergunta me ocorreu ao ler a conclusão de Mounin citada pelo Zé ("...levam a constatar que as 'visões de mundo' que seriam por eles exteriorizadas não são incomunicáveis: ao se referirem a algo tangível no mundo exterior, elas sempre permitem captar um mínimo invariante de significação denotativa, sempre susceptível de ser transmitido de língua para língua." [p. 199]"): ela corrobora a idéia (não aceita unanimamente) entre teóricos da tradução de que tudo é mesmo traduzível, ou dá munição aos que acreditam na existência do intraduzível, ao implicar que a semântica está atrelada a uma visão de mundo que pode ser exclusiva a uma certa comunidade lingüística?
Bem, pensando sobre o que José Carlos escreveu, resolvi procurar algum artigo que falasse sobre a questão VISÃO DE MUNDO e COMUNIDADE LINGÜÍSTICA, assunto que poderia ser discutido em Língua Portuguesa VIII,IX, X, XI e para o resto da nossa vida! hehehe
Enfim achei algo que acredito ser interessante para continuarmos a discussão. No primeiro site,
http://www.filologia.org.br/revista/38/12.html
consta o estudo de Maria Margarida de Andrade (UMack), sobre o VOCABULÁRIO DOS CASTANHEIROS DO PARÁ -
VALORES CULTURAIS E LINGÜÍSTICOS. Tentei selecionar algumas partes interessantes do artigo, tarefa bem difícil por sinal, já que o artigo é muuuito legal.A autora estudou a linguagem restrita de um pequeno grupo de falantes pertencentes a uma comunidade sociocultural bem delimitada: os castanheiros de Marabá, estado do Pará. Ela começa o artigo assim:
"As línguas são produtos da cultura, dessa forma, as mudanças na cultura determinam mudanças lingüísticas e vice-versa."
Então, Maria Margarida exlica como foi o estudo com os castanheiros e fala sobre a visão de mundo daquele povoado, que acaba por interferir completamente na linguagem utilizada por deles.
"O aspecto léxico-semântico da linguagem dos castanheiros evidencia a identidade entre língua e cultura, ou simplesmente, as relações entre língua e realidade social. Tome-se, por exemplo, o verbo “escapar”, com o sentido de viver ou sobreviver e o adjetivo “véio”, na acepção de inútil, sem valor. No ambiente hostil, de mata fechada, que alia a generosidade da natureza ao perigo representado pelos animais selvagens, pelos rios imensos, que oferecem alimento e transporte, a par de enchentes catastróficas, viver significa, literalmente, “escapar” das forças naturais incontroláveis e das precárias condições de vida. Nesse contexto, “véio” só pode ser inútil, insignificante, sem valor, pois ao velho, faltam-lhe forças para lutar contra as condições adversas da vida. “Amarrar o facão” é expressão mais ou menos correspondente ao “pendurar as chuteiras” e designa a impotência sexual masculina ou a menopausa, nas mulheres. Quem “amarrar o facão” não pode “torar castanha”, isto é, já não está apto a enfrentar o serviço pesado, a luta pela sobrevivência. O verbo “bamburrar”, que significa enriquecer inesperadamente, no garimpo, é muito empregado na região. Diz um informante: “Eu gosto du garimpu purque ele é qui nem um jogo. Um dia o sujeito ta meio péssimo, de repente encontra uma pedra boa, bamburra, qué dizê, nu garimpo u sujeito ta sempre sucessivi di inricá. Castanha num inrica ninguém."
Bem legal, né?
Em um outro site,
http://www.abstracta.pro.br/english/journal/volume1number1/v1n1a6%20-%20Souza%20-%20Fundacionalismo.pdf
encontrei o estudo de Carlos Eduardo Batista de Sousa. Ele fala sobre a obra de Wittgenstein (confesso não conhecê-lo, mas achei suas idéias bem interessantes). Wittgenstein desenvolveu o conceito de Jogo de Linguagem.
"Wittgenstein desenvolve o conceito a partir de uma analogia com o conceito de jogo, e
aponta certas características e semelhanças com a linguagem: jogos possuem regras, são
práticas compartilhadas por uma comunidade, possuem peças, são autônomos, não requerem
justificativas, etc. Entretanto, deve-se ressaltar que não há uma característica comum (uma
essência) que perpassa em todos os jogos. Sua idéia é que existem semelhanças de família,
como nos membros de uma família, e estas semelhanças fornecem uma idéia geral do que seja
um jogo. Por conseguinte, a linguagem também possuiria certas características como os jogos,
e dentre estas, a principal é a relacionada a regras. Tanto os jogos como a linguagem, são
atividades constituídas e guiadas por regras, que podem ser explícitas ou implícitas."
"Wittgenstein ressalta a idéia de que a multiplicidade dos jogos de linguagem
não são alguma coisa fixa no tempo, mas que se modificam: “...mas novos tipos de
linguagem, novos jogos de linguagem, como poderíamos dizer, nascem e outros envelhecem e
são esquecidos"
E, pra terminar com estilo:
"Quando os jogos de linguagem mudam, modificam-se os conceitos e, com as mudanças nos
conceitos mudam os significados das palavras."
Bem, me perdoem pelo tamanho do texto, mas tenho a certeza de que, se vocês leram até aqui, se interessaram tanto quanto eu sobre esse assunto fascinante.
Realmente muito interessantes os trechos que voce selecionou, Aninha! Tenho certeza de que os textos contenham conclusoes e discussoes bastante interessantes (espero conseguir tempo para le-los na integra em breve).
Quanto a pergunta de Zeh, acredito que Mounin reforce a ideia de que nao existe o "intraduzivel", visto que ele afirma que as visoes de mundo exteorizadas por cada comunidade linguistica nao sao incomunicaveis; se nao sao incomunicaveis, sao passiveis de traducao, nao eh? Alem disso, ele tambem declara que sempre ha uma "invariante de significacao denotativa", que pode ser transmitida de lingua pra lingua.
Eu ainda nao amadureci minha opiniao a esse respeito, na verdade. Sei que ha diversos mecanismos para se traduzir algo "intraduzivel", como parafrases, explicacoes, etc. Dessa forma, tudo seria passivel de traducao. Entretanto, se levarmos em consideracao o exemplo das cores usado por Zeh Maneh (sorry...rs..), nao creio que seja possivel traduzir plenamente as palvras que descrevem as diversas nuances de branco, existentes no idioma esquimo, para o portugues, por exemplo. E por que nao? Caio, entao, na questao da visao de mundo que estamos discutindo. Se a lingua eh produto da cultura, e se para determinada comunidade linguistica nao eh vital diferenciar nuances de branco, como traduzi-las?
Fica ai mais um questionamento.
Bjs pra tds!
Alô.
Zé: "ela corrobora a idéia (não aceita unanimamente) entre teóricos da tradução de que tudo é mesmo traduzível, ou dá munição aos que acreditam na existência do intraduzível, (...)?"
Zé, você tem toda razão neste questionamento. Seria muito proveitoso se pudéssemos ler o livro do Mounin e discuti-lo aqui. Ele passa o livro inteiro mostrando exatamente essa dicotomia, ou seja, por um lado existe teoricamente uma impossibilidade para a tradução (mormente devido às visões de mundo, mas não somente por isso), e por outro as traduções estão aí para provar que traduzir é possível. Vejamos o que nos diz Mounin:
"Até agora, organizamos o inventário tão objetivo e completo quanto possível de todas as observações da lingüística contemporânea que pareçam deixar definitivamente estabelecida a opinião de que a tradução não é 'teoricamente' possível. Falta considerar por que e como, e sobretudo em que medida e dentro de que limites, já a operação 'prática' dos tradutores se revela relativamente possível." [op. cit. p. 179]
Mounin passa então a discutir uma questão intimamente ligada a este tema: os universais lingüisticos. Muita gente discute a existência ou não desses universais lingüísticos e as respostas não são unânimes: "Com referência ao problema de saber se existem ou não traços comuns a todas as línguas do mundo -- vale dizer, 'universais lingüísticos' -- encontramos um número de elementos de resposta muito maior do que seria de esperar depois de tudo que ficou dito." [op. cit. p. 190]
Além disso, é necessário considerar outros "universais": universais culturais, tecnológicos, biológicos. Aginsky, citado em Mounin, afirma: "os universais são muito mais numerosos do que supomos. (...) Insistimos apenas em que, diante de todas essas diferenças, ainda resta um acervo importante e que não pode ser evitado, de traços universais comuns (a todas as línguas) de semelhanças que fazem jus ao estudo mais atento (...) devemos concluir também que a tradução de qualquer língua para outra é possível 'pelo menos' no domínio dos universais(...)" [op. cit. p. 206]
Ou seja, ainda que a "tradução total" seja impossível, ainda nos resta a "tradução parcial". Em termos de significado (nosso assunto aqui) e visão de mundo, talvez não possamos apreender o significado "total" de algumas coisas, mas sim o significado "parcial". Será que isso faz sentido? :-)
Ana, boas contribuições. A questão dos castanheiros ilustra bem brasileiramente o que vimos discutindo aqui. Quanto a Wittgenstein, também não conheço muito bem sua obra (na verdade, nada...:-) mas sei que ele é um dos grandes filósofos de todos os tempos. Quem quiser, dê uma olhada nesse site; vocês vão adorar: (http://www.cfh.ufsc.br/~mafkfil/scruton.htm)
A discussão está aberta pra quem quiser...
Alô de novo...
Estava eu digitando minha looooonga historinha e enquanto isso a Carol digitava a sua... o virtual é o máximo mesmo...:-)
Bem, já discorri sobre isso no meu post, mas a Carol aponta um detalhe interessante quanto às línguas e às visões de mundo (e conseqüentemente quanto ao significado): "se nao sao incomunicaveis, sao passiveis de traducao". Com certeza. A prova está no que eu falei antes (na verdade o Mounin) sobre os universais e sobre o fato de que, com todas as dificuldades (impossibilidades?), as traduções existem, capengas ou não.
Abraços do Zé Maneh (amanhã tu me paga na monografia...). Aliás, vou passar a usar C, A, JC e R aqui pra simplificar os nomes de vocês... a codificação ficou clara ou preciso desenhar? :-)))
Pessoal após os comentários de todos achei interessante colocar o que encontrei no livro Curso de Lingüística Geral.
Segundo Saussure em relação a mutabilidade do signo, diz o seguinte:"Se se tomasse a língua no tempo, sem a massa falante...não se registraria talvez nenhuma alteração; o tempo não agiria sobre ela. Inversamente, se se considerasse a massa falante sem o tempo, não se veria o efeito das forças sociais agindo sobre a língua. Para estar na realidade, é necessário, então, acrescentar ao nosso primeiro esquema de signo que indique a marcha do tempo: A língua já não é agora livre, porque o tempo permitirá as forças sociais que atuam sobre ela desenvolver seus efeitos, e chega-se assim ao princípio de continuidade, porém implica necessariamente a alteração, o deslocamento mais ou menos considerável da relação."(p.92/93)
Eu acredito que tudo se traduz .No Brasil as variedades lingüísticas são inúmeras e nem por isso ficamos incomunicáveis nos diversos estados do nosso país.
:)
Ainda bem que estamos em uma discussão online, caso contrário, sairíamos da faculdade só pela manhã, né? hehe
Esses tradutores de plantão são umas figuras... hehe "Traduzível ou intraduzível? That's the question!"
Bem, tenho uma pergunta pra vocês: temos visto que a visão de mundo e a cultura de uma determinada sociedade interferem bastante no sentido de um determinado objeto, né? Casa grupo tem seu signo próprio, seu estilo próprio, enfim, suas particularidades. Não teria o tradutor a "missão" de aproximar o leitor da realidade de um texto, por exemplo? Para isso, ele teria que transformar algo original, né? Acho que um próprio texto original possui suas rachaduras e é por meio delas que um tradutor entra. Assim, acredito ser possível traduzir algo considerado intraduzível.Encontrei algo interessante em dois sites. O primeiro,
http://rascunho.rpc.com.br/index.php?ras=secao.php&modelo=2&secao=2&lista=1&subsecao=5&ordem=1435&semlimite=todos
fala o seguinte:
"O tradutor é como a criança que recebe duas mensagens conflitantes diante das quais não há resposta correta possível."
E o outro site,
http://www.studio.pro.br/formacaotradutor.htm
aprofunda a questão:
"Nada é intraduzível num sentido, mas em outro tudo é intraduzível, a tradução é um outro nome para o impossível. Num outro sentido da palavra “tradução”, certamente, e de um sentido a outro é fácil me fechar sempre entre estas duas hipérboles que são no fundo a mesma e ainda se traduzem uma na outra." (Jacques Derrida)
Complicado, não? Passo a bola pra vocês, queridos!:-)
Acho que Derrida fala de maneira mais sofisticada o que estamos discutindo, Aninha (sinal de que estamos no caminho certo:) Quando ele diz que "nada é intraduzível num sentido, mas em outro tudo é intraduzível", ele diz que nem sempre eh possivel fazer uma "traducao total" de um texto, de um significado, mas sim uma "traducao parcial", como Zeh falou. Ateh porque a traducao em si eh apenas uma das interpretacoes que o texto vai sofrer. Depois de traduzido, cada leitor vai fazer sua propria "traducao", construir seu proprio significado daquilo que le.
Me ocorreu uma metafora meio boba agora..hehehe... Eh soh a gente pensar em uma piada. Se eu contar uma piada sobre loiras (que, quase sempre, eh preconceituosa) para um grupo de pessoas, elas podem reagir de diversas maneiras a essa piada. Se for uma mulher loira, pode se sentir ofendida, por exemplo. Ou seja, a "traducao" que ela fara do texto sera diferente da dos outros.
Ou entao imaginemos que alguem nao entenda a piada e voce tenha que explica-la. A pessoa vai entende-la no final, mas ela vai perder o seu efeito inicial.
O mesmo acontece com a traducao. Muitas vezes o texto perde o seu efeito inicial, nao por incompetencia do tradutor (muito embora muitos insistam em culpar o pobre por tudo...hehehehehe), mas porque muitas vezes aquele significado nao faca parte da visao de mundo de determinada comunidade, ou entao ela atribua aquele mesmo signo significado diverso.
Enfim, tambem acho q nao exista o "intraduzivel". Talvez soh os "traduzives parciais"...heheheheheh
Bjinhos pra tds!
Alô todos...
Wow... é impressão minha ou vocês estão empolgados com essa questão de significado, visão de mundo e tradução? Que bom... porque no fundo essas três coisas têm tudo a ver, como vocês mesmos estão notando pelos posts. Bom, vamos dar prosseguimento...
Raquel disse: "Eu acredito que tudo se traduz. No Brasil as variedades lingüísticas são inúmeras e nem por isso ficamos incomunicáveis nos diversos estados do nosso país."
Pois é: por aí se vê que diferenças em língua não significam impossibilidades intransponíveis, embora às vezes isso aconteça. Pode acontecer de não ser 100 % alguma coisa, mas alguma porcentagem sempre há. É a questão, só para citar um exemplo, da tal "tradução total" X "tradução parcial" que eu mencionei e a Carol também recuperou no último post dela.
E falando em Carol, tem uma parte do post dela que eu queria comentar. Diz ela: "O mesmo acontece com a traducao. Muitas vezes o texto perde o seu efeito inicial, nao por incompetencia do tradutor (muito embora muitos insistam em culpar o pobre por tudo...hehehehehe), mas porque muitas vezes aquele significado nao faca parte da visao de mundo de determinada comunidade, ou entao ela atribua aquele mesmo signo significado diverso."
Concordo em parte. Embora não seja nosso tema aqui (a tradução especificamente), ela tem muito a ver com semântica (acho que tem muuuuuito a ver). Muitas vezes (e vemos muitos erros de tradução por aí) é pura incompetência do tradutor sim, pois ele falha justamente em (1) perceber essas diferenças semânticas e/ou de visões do mundo, talvez por falta de pesquisa ou de discernimento mesmo e (2) por não ter o conhecimento suficiente para adequar uma visão de mundo à outra por meio de estratégias específicas. E há vários recursos: paráfrase, notas de rodapé, adaptações... enfim, muita coisa é possível, contanto que se saiba o que se está a fazer...
A Ana também colocou algo interessante: "Bem, tenho uma pergunta pra vocês: (...) Não teria o tradutor a "missão" de aproximar o leitor da realidade de um texto, por exemplo?"
Bom, de novo, embora não seja nosso foco principal aqui, posso avançar algumas idéias tradutórias para responder essa pergunta. Sim e não. Na verdade, quando se traduz algo que tenha implicações temporais, sociais, culturais, existem basicamente três abordagens: (a) manter a distância histórica em tudo, numa posição arcaizante; (b) manter a distância histórica num discurso coerente com a atualidade, ou seja, o leitor do texto traduzido terá contato com o período anterior, os temas, os termos, mas com muita coisa mastigada, explicada... seria uma abordagem histórica; e (c) fazer exatamente o que a Ana sugere, quer dizer, aproximar o leitor. Há prós e contras nas três abordagens, que não são nosso objetivo aqui, mas para exemplificar, imaginem que estão traduzindo um texto do português para o inglês sobre os "bandeirantes" e as "entradas e bandeiras". Nada disso existiu (a corrida do ouro nos EUA não foi a mesma coisa), por exemplo, nos EUA. O que fazer? Encontrar equivalentes para bandeirantes, entradas e bandeiras ou deixar os termos e explicá-los para dar o sabor da época ao leitor do texto traduzido para o inglês? A resposta dependerá de uma série de elementos, mas espero que tenha dado para exemplificar.
Agora, atacar de Derrida foi forte... tô vendo que o pessoal tá poderoso... A Ana levantou a bola e a Carol chutou. O que o trecho da Ana fala é exatamente o que estamos discutindo aqui.
Bom, vou deixar os demais falaram... JC, Neilton (é, gente, tem mais um no grupo...:-) kd vcs?
Zé
Boa discussão pessoal. Estou vendo que todos estão demonstrando dedicação e entusiasmo.
Bem, dando prosseguimento a velha questão tradutória de uma possível intraduzibilidade na tradução de um texto, verso, ou uma unidade de sentido qualquer, tenho algumas considerações. De forma geral, compartilho da idéia da grande intérprete e teórica da tradução Danica Seleskovitch, auq afirmava que não existe tradução impossível e sim tradutor ruim. Mas sei que o "buraco" que move essa discussão, além de mais abaixo, é bem mais profundo. Primeiro, acho que o papel exercido pela visão de mundo na interpretação/tradução de qq texto é algo incontestável. Com frequência, somos obrigados a recorrer a uma nota de rodapé ou a outro recurso com o objetivo de preservar o sentido, que normalmente é o mais importante. Porém, sabemos que em uma poesia, por exemplo, temos outros elementos tão importante quanto a semântica do texto, como a rima e a métrica. Nesses último caso,o problema não vai girar unicamente em torno da semântica, da idéia final do texto, pois há outras elementos que também devem ser traduzidos. Aí sim, temos um baita problema, pois frequentemente o tradutor/poeta tem de escolher sentido/rima/métrica. Geralmente um dos três não são traduzidos. Ainda assim, não acredito que isso faz de uma poesia intraduzível. Ela simplesmente terá um formato, como já disseram meio "capenga", um formato diferente voltado a uma outra realidade que não abarca, muitas vezes, tudo que se quer dizer no original. Isso porque a idéia na cultura de chegada pode simplesmente não existir.
Anyway, acho q o termo "intraduzível" não tem um lugar bem definido e comprovável no campo da tradução.
Cheers/Saludos a tds.
Ola, pessoal!
Depois de ler com calma o texto "A Semantica Lexical", percebi que fiz minha tarefa de maneira parcialmente incorreta (soh fui perceber um mes depois...rs... isso q eh retardamento msm...rs...)
De acordo com o texto, na lingua inglesa o arco-iris conta com apenas 6 cores (red, orange, yellow, green, blue e purple). Soh depois de ler o texto eh q fui analisar a capa e, entao, percebi que realmente soh constavam seis cores.
Ai, sim, toda a discussao de lingua e visao de mundo fez ainda mais sentido. O fenomeno eh o mesmo em qualquer lugar do mundo, mas a maneira de descreve-lo varia de lingua pra lingua. =)
Isso prova duas coisas:
1) A nossa visao de mundo altera a maneira como enxergamos a realidade (ao ouvir falar de arco-iris, nao analisei a capa do CD com cuidado, porque, para mim, o arco-iris tinha sete cores indiscutivelmente)
2) Zeh esta corretissimo quando nos adverte para ter cuidado com as fontes de pesquisa...rs...
Obs: Agora eu entendi porque Aninha se desdobrou em explicar o fenomeno cientificamente...rs...
Bjinhos pra todos!
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